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O câncer de mama e depressão

10 de outubro de 2017

Câncer de mama e a sua relação com a depressão exige um discussão profunda.

A complexidade da imagem não deixa dúvidas. Quatro crianças no chão, buscando de alguma forma um espaço debaixo da saia da mãe. A pequena mais nova tem local certo. Deitada no colo da matrona, ela parece ser a mais confortável e satisfeita. Isso porque mama em um peito vistoso que parece repleto de leite e amor.

A escultura “Caridade com quatro crianças” de Gian Lorenzo Bernini tenta louvar não apenas o amor e a sobrecarga materna, mas também o poder dos seios. Símbolo físico supremo da energia feminina, fonte de alimentação, carinho, amparo e de excitação sexual, esse órgão é objeto de adoração de todas as pessoas e em todas as idades.

Não à toa, a mídia aprendeu a valorizá-lo, as mulheres não pestanejam em aumentá-lo e o discurso feminista não hesita em evidenciá-lo como representante maior do poder feminino. Machucar essa parte do corpo pode trazer consequências.

A importância do Outubro Rosa

Volvei mais um outubro rosa! Período do ano em que as atenções de vários lugares do mundo se dirigem para a conscientização com relação ao câncer de mama. A ideia principal que delineia esse conceito é trazer à população fatores que envolvem o desenvolvimento, prevenção, diagnóstico e tratamento desta doença, favorecendo assim, o diagnóstico precoce e melhorando, dessa forma o tratamento, a sobrevida e a qualidade de vida das pacientes vítimas desse mal.

Dados epidemiológicos apontam que, em se excluindo os cânceres de pele não melanoma, o câncer de mama é a neoplasia maligna que mais acomete o público feminino no Brasil e no mundo. Segundo números de 2015 do Instituto Nacional do Câncer, os índices variam de acordo com a região do Brasil, sendo mais comum na região sudeste, onde atinge taxas de cerca de 65 casos para cada 100.000 habitantes e menor na região norte, onde temos cerca de 17 mulheres para cada 100.000 habitantes.

Lidando com o diagnóstico do câncer de mama

Como em qualquer tipo de câncer, o diagnóstico de câncer de mama tem um efeito devastador sobre as pacientes, porque além de trazer graves apreensões acerca da sobrevida e do tratamento, traz intensas preocupações acerca da identidade feminina, com a dilapidação de importantes símbolos comprometidos no tratamento.

A terapêutica pode levar a alguns efeitos adversos, como:

Isso, indubitavelmente, pode se configurar como um fator desencadeante para quadro depressivo, o que pode tornar-se um grande problema para a adesão e para o tratamento por si só.

Cerca de 1/3 das pacientes com diagnóstico de câncer de mama, ou de 25% a 35%, podem desenvolver depressão e esse quadro tende a se mostrar mais exuberante no período que envolve o estabelecimento do diagnóstico até a realização da cirurgia.

Nessa ocasião, vários fantasmas passam a assombrar a doente: o medo da morte e da mutilação, o forte receio de ser abandonada pelo marido, de deixar de ser atraente como mulher e das sequelas que pode apresentar no processo terapêutico.

A depressão é uma doença caracterizada por um conjunto de sintomas como:

Em pacientes com câncer de mama, essa doença pode ocorrer em todas as fases do tratamento e está relacionada a uma intensificação da baixa autoestima e ao medo de exclusão social relacionada aos efeitos do processo terapêutico.

Os efeitos da depressão nas pacientes

É muito comum essas pessoas apresentarem medo de ser abandonadas pelo companheiro, intenso receio de perder a sensualidade e de nunca mais conseguir se identificar como mulher.

A depressão tende a ser mais intensa em indivíduos com pouca continência social ou da equipe de saúde ou ainda familiar. Experiências depressivas prévias e histórico hereditário de depressão também são fatores de risco. Mulheres que apresentam sintomas depressivos exacerbados logo ao diagnóstico, também tendem a deprimir mais. Isso exige atenção especial da equipe clínica e de saúde mental que acompanha o caso.

A importância de um olhar profissional durante o tratamento do câncer de mama

Psiquiatras e psicólogos que trabalham com oncologia, geralmente estão bastante atentos a todas as fases da doença e agem para clarear para as doentes as características dos sintomas que ela está apresentando e para ajudá-las a separar queixas reais, vinculadas ao processo terapêutico, de queixas relacionadas a seus medos e angústias, oferecendo grande suporte para suas inseguranças e ajudando a prever o que está por vir. Além disso, esses profissionais estão atentos à reconstrução da identidade da pessoa.

Ela era uma mulher antes do câncer e agora se tornará uma mulher diferente do que era. Não menos mulher, apenas diferente. E não diferente do ponto de vista físico. A mama pode ser reconstruída. Mas ela será outra pessoa do ponto de vista psicológico após a incorporação dessa experiência. Além disso, pode-se formar grupos de autoajuda em que indivíduos com histórias pregressas da doença, compartilham experiências.

Têm tido muito sucesso no processo terapêutico também terapias de relaxamento que envolvem prática de yoga e exercícios físicos, além de massagem e técnicas de meditação como mindfulness. Mas, costuma ser contraindicada para essas fases as terapias analíticas, que tendem a lidar com o passado inconsciente doloroso e angustiante da paciente. Seria como uma sobreposição de dores, totalmente ineficaz em um momento como esse.

O outubro rosa, assim, chega em boa hora! Hora de conscientizar toda a sociedade desse mal e unir todos ao combate contra o preconceito que pode envolver nossas doentes. Vamos todos à luta!

Dr. Rodrigo de Almeida Ramos – psiquiatra e diretor da Clínica Vínculo